sábado, 23 de março de 2013

O Bar do Fim do Mundo

Meu Deus, quanto tempo não apareço por aqui... Trabalhando muito e sem tempo pra manter o blog atualizado (lamento muitíssimo por isso), mas aos poucos as coisas vão se acertando e sempre que possível postarei algo. A postagem de hoje é uma volta aos velhos tempos. Uns anos atrás eu costumava escrever alguns contos, mas fazia tempo que não escrevia nada. Hoje bateu a vontade e fiz um pequeno texto que já me deu ideia para um conto maior, vamos ver se consigo fazer... Espero que gostem e se puder postarei com mais frequência...

O BAR DO FIM DO MUNDO

Caminhava pela rua sem destino certo. Era uma manhã quente e o suor escorria e embaçava meus olhos. Na tentativa de fugir da claridade do dia, encontro abrigo no ambiente escuro de um bar; o primeiro que vejo aberto – talvez por ainda ser manhã e os bêbados veteranos estarem chegando em casa.
Sento-me ao balcão e peço um uísque com gelo. Enquanto o bar tender prepara a bebida ouço os primeiros acordes de uma antiga música do Sinatra. Esforço-me pra lembrar o nome, mas apenas fico com a imagem do velho Frank dançando na minha cabeça. Tomo um grande gole do uísque – que tem gosto mais estranho que do me lembrava – enquanto meus olhos finalmente se acostumam à falta de luz do lugar.
Acendo um cigarro enquanto o garçom limpa o balcão com o pano mais sujo que já vi. Não tem mais ninguém no bar e o universo parece resumir-se a mim, meu amigo silencioso atrás do balcão, o gelo que derrete lentamente no copo e a fumaça do cigarro que serpenteia acima da minha cabeça. Termino de tomar o resto da bebida, sentindo o paladar aveludar-se ao gosto áspero.
Peço outro uísque enquanto Sinatra canta as últimas palavras da música esquecida. Meu companheiro coloca um novo copo na minha frente, o gelo e a bedida reluzindo sob a luz fraca, metade do meu pequeno universo acaba de ser recriada. No rádio o noticiário começa com o informe de uma explosão numa rua próxima.
Dessa vez viro o copo todo num único gole e fico pensando em como não ouvi a explosão que ocorrera tão perto. Sentado no banco desconfortável do balcão de um bar de quinta categoria, mal ouvindo o que o radialista noticia sobre os pobres feridos localizados a poucos metros.
Levanto-me e pergunto ao companheiro desse universo paralelo quanto devo pelos drinks, ele me faz um sinal com a cabeça e diz que é por conta da casa – primeira vez que ouço sua voz. Agradeço e quando abro a porta sou atingido por uma luz que me cega instantaneamente, como se abrisse as portas do paraíso.
Dou um passo à frente, a porta se fecha às minhas costas e ainda cego pela claridade ouço o caos das sirenes de carros de bombeiros, ambulâncias e policias. Pessoas correm para todos os lados, há gritaria e o som de uma nova explosão – dessa vez escuto perfeitamente. A realidade me acerta como um tapa no rosto.
Viro às costas ao mundo e volto pro interior agradável do bar; agora sou recebido pela voz doce de uma cantora que desconheço, cantando uma música que nunca ouvi. Retomo meu lugar no balcão e peço outra dose de uísque. O garçom me sorri com dentes amarelos e serve a bebida sem falar uma palavra. O tempo para novamente e acendo outro cigarro, ofereço ao meu amigo e ele aceita com um gesto de agradecimento. Acho que é o começo de uma bela amizade...

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