quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Poema Mais ou Menos de Amor - Luis Fernando Verissimo

As férias terminaram, a minha exposição também (muito obrigado a todos os que compareceram e prestigiaram, foi um prazer contar com a presença de todos). Agora, volta às aulas, trabalho... aproveitando um tempinho livre, decidi postar esse poema do Verissimo, este é um dos meus poemas prediletos, então aí vai...

Eu queria, senhora,
ser o seu armário
e guardar seus tesouros
como um corsário.
Que coisa louca:
ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida,
circunspecta e pesada
nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei
(de que madeira eu não sei).
Um sentinela do seu leito
— com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas
para suas argolinhas.
Ter um vão
para o seu camisolão
e sentir o seu cheiro,
senhora,
o dia inteiro.
Meus nichos
como bichos
engoliriam suas meias-calças,
seus sutiãs sem alças.
E tirariam nacos
dos seus casacos.
Ah, ter no colo,
como gatos,
os seus sapatos.
E no meu chão,
como trufas,
suas pantufas...
Suas echarpes, seus jeans,
seus longos e afins.
Seus trastes
e contrastes.
Aquele vestido com asa
e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo.
Um pulôver amigo.
Bonecas de pano.
Um brinco cigano.
Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.
Suéteres de lã
e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo
no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores,
os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior
à procura de um pregador.
Desarrumando o meu ser
por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,
senhora,
e o seu medo.
E sufocar,
com agravantes,
todos os seus amantes.  

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo o Poema bem como seria um poema mais ou menos de amor esse escritor sabe escrever tudo direitinho sem nenhum erro todos as cronicas dele são boas difícil escolher uma pra ler!

Alberto Lopes disse...

pois é... é difícil não gostar do que o verissimo escreve, a simplicidade das palavras é o que mais me impresiona... ser simples é complicado...